
Cais de partida(s)
Sempre detestei os cais
de partida,
as estações ferrovárias,
os terminais de autocarro,
onde há gente vulgar
com lágrima fácil ao canto do olho
e pombos debicando restos de comida.
São sombrios e tristes os ares
das gares
como é sombrio e triste qualquer lugar
onde se parte
e reparte
e há sempre alguém que fica
com a melhor parte.
Campo Grande,
Rossio,
Santa Apolónia,
Sete Rios
Cais de Alcântara…
Quem parte está a mais
e não conta na cidade
e só quem parte
leva saudade.
Eu sei que tudo isto é à nossa escala,
liliputiana,
e que noutros sítios
há uma verdadeira tragédia humana
a correr, sem testemunhas.
Que Lisboa não é, ainda,
uma megacidade da quarta economia do crime,
nem pertence a um narco-Estado.
Mas o drama da angolana,
com a sua pequena mala,
que quer ir para Freixo de Espada à Cinta
à procura do velho pai
que não conhece,
não pode deixar-me indiferente.
Nem o caso do nordestino brasileiro
que em Sete Rios julga ter entrada no paraíso.
Nem tão pouco do romeno
que reboca o meu carro
e que me contou a história, fantástica,
da avó e dos seus filhos,
fugidos dos nazis
e alimentando-se, meses e meses a fio,
nos Cárpatos,
do leite da única vaca que escapou à orgia da cruz suástica…
Resta-me a grande nostalgia dos comboios
que nunca tive,
nem em brinquedos,
e que nunca sabotei,
porque nunca fiz parte da resistência,
e onde que nunca viajei
pela simples razão
de nem sequer passarem à minha porta.
Menino e moço me levaram da casa de meus pais
para longes terras, Bernardim,
e talvez por isso
me seja hoje mais fácil chegar do que partir.
Sempre detestei os cais
de partida,
as estações ferrovárias,
os terminais de autocarro,
onde há gente vulgar
com lágrima fácil ao canto do olho
e pombos debicando restos de comida.
São sombrios e tristes os ares
das gares
como é sombrio e triste qualquer lugar
onde se parte
e reparte
e há sempre alguém que fica
com a melhor parte.
Campo Grande,
Rossio,
Santa Apolónia,
Sete Rios
Cais de Alcântara…
Quem parte está a mais
e não conta na cidade
e só quem parte
leva saudade.
Eu sei que tudo isto é à nossa escala,
liliputiana,
e que noutros sítios
há uma verdadeira tragédia humana
a correr, sem testemunhas.
Que Lisboa não é, ainda,
uma megacidade da quarta economia do crime,
nem pertence a um narco-Estado.
Mas o drama da angolana,
com a sua pequena mala,
que quer ir para Freixo de Espada à Cinta
à procura do velho pai
que não conhece,
não pode deixar-me indiferente.
Nem o caso do nordestino brasileiro
que em Sete Rios julga ter entrada no paraíso.
Nem tão pouco do romeno
que reboca o meu carro
e que me contou a história, fantástica,
da avó e dos seus filhos,
fugidos dos nazis
e alimentando-se, meses e meses a fio,
nos Cárpatos,
do leite da única vaca que escapou à orgia da cruz suástica…
Resta-me a grande nostalgia dos comboios
que nunca tive,
nem em brinquedos,
e que nunca sabotei,
porque nunca fiz parte da resistência,
e onde que nunca viajei
pela simples razão
de nem sequer passarem à minha porta.
Menino e moço me levaram da casa de meus pais
para longes terras, Bernardim,
e talvez por isso
me seja hoje mais fácil chegar do que partir.
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