terça-feira, maio 01, 2012

Blogantologia(s) II - (99): Poema para os dias tristes


Poema para os dias tristes
(Dedicado às mulheres que eu amo)

Às vezes não sabemos lidar
Com este mundo,
Sobretudo quando ele é claustrofóbico.
Às vezes temos de passar
A nossa temporada no inferno,
No mais fundo
Do ventre materno.
Ah! esta nossa terra,
Mãe e madrasta,
Madrinha de guerra,
Jocasta,
Que ora cuida de nós ora nos maltrata,
E a quem não conseguimos dizer Basta!

Não sabemos tirar a pedra,
A simples pedra,
Que serve de tampão ao nosso vulcão…
Todos temos um vulcão,
Nem que seja um vulcãozinho de estimação,
Um vulcão que é 70% de pura emoção,
Que é o puro delírio do poder
Ou do simples poder da imaginação!...
Antes fosse só poesia,
Implosão de alegria,
Poesia do delírio!...
Os outros 30% são
Cocktail de sangue, suor e lágrimas.

Mas é aqui que tu e eu vivemos
E respiramos,
Mesmo que mal,
E é aqui que sonhamos,
E nos enamoramos,
E aos sábados e domingos rezamos
Aos deuses que nos outros dias da semana criamos.

É aqui que eu  tiro a conclusão
Que sou livre  mas mortal.
É aqui (que eu sei) que vou  morrer,
Ponto final!
Digo que vou morrer, meu amor…
Mas o que é morrer ?
Sei lá, é o fim da espiral,
O cabo finisterra,
O colapso dos meridianos,
A cama terminal do hospital.
Sei que vou morrer
Pela simples lei das probabilidades:
Tudo o que vive, morre,
Tudo o que vai morrer, já viveu.
E eu vivo, logo morro!
Nada mais cartesiano…
Só não sei a hora, o dia, o mês e o ano!

Receio bem, querida,
Que não tenhamos alternativa,
Podemos mesmo achar
Que é injusto ou até indecente
Não haver uma 3ª via
Entre o viver e o morrer.
Pena que a vida
Seja o que é,
De sentido único,
Do berço à cova.
Pena que não seja como o serviço de buffet
Do restaurante,
Para ao menos se poder escolher
Entre o frio e o quente!
Oxalá o amor, meu amor, fosse eterno!
Ou oxalá fosse eterna a doce ilusão do amor!

Estou agora parado,
Feito pateta,
No entroncamento do planeta,
Num comboio fantasma,
Sentado no lugar do morto
Que não vejo,
E que foi vítima de um qualquer miasma.
Ah! Como eu invejo
Os otimistas profissionais,
Os arquitetos do futuro,
Os céticos,
Os agnósticos,
Os chacais,
Os místicos,
Os letrados,
Os prognósticos
(mesmo que reservados),
Os tristes,
Os bem aventurados,
Os altruístas,
Os mente…capos,
Os amigos da humanidade,
Todos aqueles,
Que vão pondo andaimes
Nos cumes do nada.

A verdade
É que às vezes não sei
Onde pôr os pontos nos ii
Nem os pontos de reticência
Na  Sua Excelência!
Ou até, pasme-se!, a pomba da paz
Na alto do quico do general,
Que é o palhaço de serviço ao circo global!
Mas isso tanto faz:
Nem sequer sei pôr,
Como manda a boa ortografia,
O simples ponto
De interrogação (ou de exclamação ?)
Na eternidade.
Ou o  simples dedo…
No cu do medo!

Lisboa, 14/2/2012