Poema para os dias tristes
(Dedicado às
mulheres que eu amo)
Às vezes não
sabemos lidar
Com este
mundo,
Sobretudo
quando ele é claustrofóbico.
Às vezes
temos de passar
A nossa
temporada no inferno,
No mais
fundo
Do ventre
materno.
Ah! esta nossa
terra,
Mãe e madrasta,
Madrinha de
guerra,
Jocasta,
Que ora
cuida de nós ora nos maltrata,
E a quem não
conseguimos dizer Basta!
Não sabemos
tirar a pedra,
A simples
pedra,
Que serve de
tampão ao nosso vulcão…
Todos temos
um vulcão,
Nem que seja
um vulcãozinho de estimação,
Um vulcão
que é 70% de pura emoção,
Que é o puro
delírio do poder
Ou do
simples poder da imaginação!...
Antes fosse
só poesia,
Implosão de
alegria,
Poesia do
delírio!...
Os outros
30% são
Cocktail de
sangue, suor e lágrimas.
Mas é aqui
que tu e eu vivemos
E respiramos,
Mesmo que
mal,
E é aqui que
sonhamos,
E nos
enamoramos,
E aos
sábados e domingos rezamos
Aos deuses
que nos outros dias da semana criamos.
É aqui que eu tiro a conclusão
Que sou
livre mas mortal.
É aqui (que eu
sei) que vou morrer,
Ponto final!
Digo que vou
morrer, meu amor…
Mas o que é
morrer ?
Sei lá, é o
fim da espiral,
O cabo finisterra,
O colapso
dos meridianos,
A cama
terminal do hospital.
Sei que vou
morrer
Pela simples
lei das probabilidades:
Tudo o que
vive, morre,
Tudo o que
vai morrer, já viveu.
E eu vivo, logo
morro!
Nada mais
cartesiano…
Só não sei a
hora, o dia, o mês e o ano!
Receio bem,
querida,
Que não
tenhamos alternativa,
Podemos
mesmo achar
Que é
injusto ou até indecente
Não haver
uma 3ª via
Entre o
viver e o morrer.
Pena que a
vida
Seja o que
é,
De sentido
único,
Do berço à
cova.
Pena que não
seja como o serviço de buffet
Do
restaurante,
Para ao
menos se poder escolher
Entre o frio
e o quente!
Oxalá o amor,
meu amor, fosse eterno!
Ou oxalá
fosse eterna a doce ilusão do amor!
Estou agora
parado,
Feito
pateta,
No
entroncamento do planeta,
Num comboio
fantasma,
Sentado no
lugar do morto
Que não vejo,
E que foi
vítima de um qualquer miasma.
Ah! Como eu
invejo
Os otimistas
profissionais,
Os
arquitetos do futuro,
Os céticos,
Os agnósticos,
Os chacais,
Os místicos,
Os letrados,
Os
prognósticos
(mesmo que reservados),
Os tristes,
Os bem
aventurados,
Os
altruístas,
Os
mente…capos,
Os amigos da
humanidade,
Todos
aqueles,
Que vão pondo
andaimes
Nos cumes do
nada.
A verdade
É que às
vezes não sei
Onde pôr os
pontos nos ii
Nem os
pontos de reticência
Na Sua Excelência!
Ou até,
pasme-se!, a pomba da paz
Na alto do
quico do general,
Que é o
palhaço de serviço ao circo global!
Mas isso tanto
faz:
Nem sequer sei
pôr,
Como manda a
boa ortografia,
O simples
ponto
De
interrogação (ou de exclamação ?)
Na
eternidade.
Ou o simples dedo…
Ou o simples dedo…
No cu do
medo!
Lisboa, 14/2/2012