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domingo, janeiro 06, 2008

Blogantologia(s) II - (61): Lembro-me que era Dezembro

Lisboa> Belém > A ponte 25 de Abril e o Cristo Rei, ao crepúsculo > 6 de Janeiro de 2007.

Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.


Para o João, quando fez 22 anos, e que estava em Florença, no Erasmus:

João:

Um poema (revisto) que eu escrevi à tua mãe, em 1995, e que eu gostava que tu conhecesses, nestes dias de Janeiro de 2006, em que fazemos anos (tu, a 21, eu a 29):

Revisitando o poeta Eugénio de Andrade (Matéria Solar),
em busca da Alice
Ou:
Cinquenta poemas de amor,
De Agosto a Dezembro.

Cinquenta poemas de amor
Por outros tantos anos
Que já viveste
Entre a aurora boreal
E a noite polar.

Como poderia imaginá-los
Sem ti,
Como poderia escrevê-los
Sem sequer te imaginar,
Como poderia simplesmente dizê-los
Sem estares aqui ?

Lembro-me
De te ter dito Jacques Prévert:
- Les enfants qui s'aiment
S'embrassent debout
Contre les portes de la nuit...


Lembro-me que era Dezembro
E o que em ti respirava
Eram os olhos,
De costas viradas para a noite
Enquanto a terra ardia,
Quase um rio.

Éramos filhos da madrugada
E dormíamos náufragos e nus
Entre os búzios,
Do vento e dos moínhos
Fazendo atalaias
Contra o medo.

De Abril ficou o travo
Da liberdade,
A paixão
E a arte de esculpir corpos e almas.

E aos filhos que fizemos
Chamámos Joana e João.
Em Agosto, era fatal,
Por ti,
yo perdi la lhave,
El sobrero y la cabeza,

Entre o Marão e o Cabo do Mundo.
De Setembro guardo o cheiro
A mosto, a broa e a caldo
E a amizade quente e fraterna
Da tua gente.
Já não há milho verde, milho rei,
Mas em Dezembro,
Felizmente é Natal!

Luís Graça (1995/2006)

terça-feira, setembro 11, 2007

Blogantologia(s) II - (48): Em Agosto, o mar, a noite, o amor

Lourinhã > Praia de Paimogo > 4 de Setembro de 2007 > Algas na maré-baixa.

Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.


Em Agosto, o mar, a noite, o amor


Em Agosto, o mar, meu amor,
As algas crescendo no teu cabelo,
As ilhas secretas do teu corpo,
O sal, o sol, queimando os teus seios,
Um poema de Neruda
Que fica por dizer.

Em Agosto, a noite, meu amor,
Les enfants qui s’aiment
S’ embrassent debout
Contre les portes de la nuit…

O teu Jacques Prévert,
O cheiro a palha de centeio do teu vestido,
O cigarro que fumamos juntos,
Em silêncio.

Em Agosto, o amor, meu amor,
É beber o vinho verde pelos teus lábios,
É passear pela maresia dentro,
De mãos dadas,
É jogar às escondidas no milheiral,
É enfim ouvir uma Joana dizer
Papá, mamã.

Lourinhã, 18/8/1979