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Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.
O desejo é um pudim instantâneo
Quando eu era puto
Sempre me ensinaram
O terrível poder do Desejo,
Com D grande:
- Diz três desejos e cala-te! -
Intimava o Brutamontes.
- Quero ser rei,
Ter um exército invencível
E destruir todos os meus inimigos! –
Confessava eu, baixinho,
Aterrorizado,
No recreio da escola.
Cresci e perdi definitivamente a ilusão
De que poderia ser Deus.
Omnipotente.
Omnisciente.
Omnipresente.
Nem sequer rei ou até general.
Em contrapartida, aprendi a conhecer (mal)
Os quatro cavaleiros do Apocalipse humano:
A estupidez,
A arrogância,
A ganância,
A intolerância.
Quanto ao desejo,
com d pequeno,
Pu-lo no congelador,
Em caixinhas da tupperware:
Saúde, paz, dinheiro,
Amizade, amor,
Felicidade…
Em doses generosas, fraternais.
Tudo pronto para ser exportado
Por terra, por mar ou by air.
Tudo pronto a ser usado
Num próximo ensejo.
Mas o desejo
Tem um prazo de validade.
Deve agitar-se,
Primeiro,
Antes de usar-se.
Nunca deve ser congelado
Nem revalidado.
Hoje o desejo é um pudim instantâneo
Que se compra no hipermercado
E está sujeito a IVA
E a controlo da qualidade.
Vem em dose individual
E o seu modo de admimnistração é cutâneo.
Confesso que sou um produtor artesanal
De desejos.
Que não estou acreditado.
Que a minha produção é para autoconsumo.
E que às vezes tenho maus desejos
E maus pensamentos.
Como quando era puto
E queria ser rei
E ter um exército invencível
E matar o Brutamontes.
Praia da Areia Branca,
15 de Setembro de 2007.
No fim do verão.
Esplanada do Café do Manel Banheiro.
A meu lado, há uma reunião pantagruélica
Dos sócios honorários
Da Confraria... da Feijoada de Búzio.
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