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quinta-feira, outubro 30, 2008

Blogantologia(s) II - (73): A filha de putice da vida



Lourinhã > Praia deVale de Frades > 8 de Junho de 2007 > A capacidade de adaptação e de sobrevivência dos moluscos.

Lisboa, Benfica > Grafito > 13 de Setembro de 2007 > Alguém um dia escreveu ao Alberto de Lacerda (que morreu há tempos, pobre, só e longe da pátria, como tantos outros poetas portugueses): "Merda, merda purra, para o Alberto de Lacerda com ternura"... Outro poeta, anónimo, anarquista, foi apanhado no Bairro Alto a degradar, ainda mais, com os seus grafitos, o depauperado património edificado da cidade... A prova material do crime ficou lá registada na parede: "Se a merda valesse ouro, os pobres nasceriam sem cu"...

Fotos: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.


Ao Zé António que faz hoje anos e a quem a vida tem dado tantas coisas boas, que ele bem merece, mas que também às vezes lhe prega as suas partidas... LG


A vida prega-nos muitas partidas,
Umas boas e até divertidas,
Outras duras, puras e duras,
E muitas vezes injustas.

A vida paga-se caro,
Com língua de palmo,
Com cabeça, tronco e membros,
Includindo as custas
Do processo,
Diz o salmo,
Devidas pelo continuum do nascer ao morrer.

A vida está pela hora da morte,
Mas não vale a pena
Pedir-lhe contas,
Que ela, a vida,
É uma viagem sem regresso
E está-se nas tintas
Para os viajantes,
Os inocentes,
Os videntes,
Os loucos,
Os sem abrigo,
Os doentes,
Os portadores de chagas & apostemas,~
Os doentes de dor de dentes,
Os poetas,
Os arquitectos de sistemas,
Os incautos,
Os imprevidentes,
Os que não fizeram seguro de viagem,
Os tontos e as tontas,
Como nós.

A vida é uma gaiata,
Da caravana do Faroeste,
Caprichosa,
Leviana,
De mini-saia,
Perna ao léu,
Muita lábia,
Pouco siso,
Licenciosa,
Pobretana,
A tentar impingir-te
O elixir da eterna juventude.

Outros, mais avisados e sizudos,
Sortudos,
Barrigudos,
Dir-te-ão, my friend,
Que só temos o que merecemos
Ou o que conquistámos
.

A vida é uma roleta russa,
A vida sorri-te, com meia cara,
E tu sorris à vida, alarve,
Como um sorriso amarelo,
De orelha a orelha.

A vida é um jogo de sorte e azar,
Um carrocel,
Uma escada de caracol,
Uma bolha de ar,
Um bordel,
Um brevíssimo orgasmo em si bemol.

A vida é uma puta
Ou é a nossa vida que é uma puta de vida!

... Mas um lutador,
Um ganhador, como tu,
Não vai atirar a toalha ao chão
Aos primeiros desaires,
Às primeiras filhas de putice da vida!

segunda-feira, novembro 12, 2007

Blogantologia(s) II - (60) Obsessivamente o mar...

Lisboa > Rua de São Bento > Grafito > 12 de Novembro de 2007 > "Vida de Cão"...

Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados



Obsessivamente o mar
da tua infância.
E as criaturas que o povoavam:

A Sereia
e a sua melopeia,
o seu canto de cigana,
fatal,
a sua rede,
onde afogava os seus pobres amantes,
depois de os arpoar com o seu tridente,
como se fossem lagostas suadas
nas mãos da chefe de cozinha;

A Baleia Azul, com a sua enorme bocarra,
que te transportava no ventre,
qual submarino,
até os mais recônditos e inóspitos lugares
do centro da terra em fogo;

O monstro, o terrível Adamastor,
que aterrorizava os teus pobres patrícios e parentes,
os Maçaricos de antanho,
marinheiros e pescadores,
agrilhoados ao cavername das caravelas;

A feiticeira Atlântida,
a cidade de som e luz,
que sempre fascinou os pobres povos ribeirinhos;

O Pirata de Perna de Pau e Cara de Mau,
que desembarcava na costa,
incendiava, estripava, matava, violava…
Ou comes A sopa
ou Eu chamo o Pirata de Perna de Pau…
;

A Passarola Voadora
que te catapultava para o Novo Mundo,
para os paraísos tropicais,
os canibais,
os praias de palmeirais e de corais,
os macacos e os leões;

O Búzio Gigante,
que podia ser o teu ursinho de peluche,
mimado,
e que era também o teu carrocel marinho,
alucinante
e alucinado;

E por fim o Moínho do Tio Xico Marteleira
que te fazia mover as ondas
e regulava as marés…
e os teus sonhos de criança
e os teus pesadelos
nas noites de invernia.

Ah!, como o mundo era perfeito
Na tua infância.