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sábado, agosto 18, 2007

Blogantologia(s) II - (46): Agosto na baixa-mar

Lourinhã > Praia de Paimogo (1) > Os antigos viveiros de lagosta, em ruínas, e a descoberto na baixa-mar, 17 de Agosto de 2007.

Lourinhã > Praia de Paimogo > Baixa-mar, 17 de Agosto de 2007.

Lourinhã > Praia de Paimogo > O Forte de Paimogo, ao fundo, visto da Pria de Vale de Frades, 17 de Agosto de 2007.


Lourinhã > Praia de Paimogo > 17 de Agosto de 2007 > Pescadores, com a Praia da Areia Branca ao fundo.


Fotos: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.


Agosto na baixa-mar (2)

Em Agosto
Voltarás a ser catraia.
A ser a primeira
A chegar à praia.
E a deixar as tuas peugadas
Impressas na areia,
Limpa e enxuta,
Da manhã.

Em Agosto,
Para, olha e escuta
O esplendor da luz nas arcadas
Das praças da cidade
Vazia.

Agosto,
Na baixa-mar,
Será sempre o teu dia,
O dia seguinte ao acto da criação
Do mundo.
E terá sempre um lugar:
Vale de Frades
Ou a implosão das falésias
E da maresia.

Em Agosto,
Submergirás até ao fundo
E será através dos subterrâneos do mar
Que chegares até aqui.
Até mim.

Agosto,
Na baixa-mar,
Será um imenso oceanário,
A festa de todos os signos,
Do Leão ao Aquário.
Agosto, o mês do verbo amar.

Lourinhã, 18 de Agosto de 2007.

__________

Nota do editor:

(1) Vd. post de 28 de Setembro de 2005 > Blogantologia(s) II - (7): Paimogo da Minha Infância

(2) Vd. posts de:

9 de Novembro de 2005 > Blogantologia(s) II - (15): O amor em Agosto

21 de Abril de 2007 > Blogantologia(s) II - (38): Apetece-me dizer-te que te amo

quarta-feira, novembro 09, 2005

Blogantologia(s) II - (15): O amor em Agosto

Publicado originalmene no Blogue-fora-nada, post de 18 de Agosto de 2005 > Blogantologia(s) - XXIX: Viagens nas minhas praias imaginárias . Revisto nesta data.

O amor em Agosto

Praia de Paimogo.
Estas pedras estão aqui
Há milhões de anos.
E eu não sei dizer-te
Por que é que estas pedras
Estão aqui
Há milhões de anos.















Uma enseada, uma cratera, um lago.
A Praia de Paimogo foi talhada
A ferro e fogo.

Mas se eu fosse deus,
Todo poderoso senhor
Ou até vulcão,
Tê-la-ia desenhado,
Com muita ternura,
Sob a forma de coração.
Só para ti, meu amor.

Estas pedras estão aqui
Muito antes dos dinossauros
Evoluírem e dominarem
O planeta azul.
Que afinal não era assim tão azul
Quanto o pintavam.

Visto da janela do teu quarto,
Em Candoz,
O vale era o mundo
E era verde,
Tal como em A Cidade e as Serras,
Do Eça de Queiroz.
Muito antes do mar,
E do pôr do sol sobre o mar,
Muito antes de saberes
Onde ficava a praia da minha infância.















Nem vale.
Nem pombas.
Nem praia.
Na Praia do Vale de Pombas,
À maré cheia, à praia-mar,
Há apenas um fio de água doce
Que mantém os cordões umbilicais
Do infinitamente pequeno da vida
Ligados ao infinitamente grande
Dos corpos celestiais.

Vale de Pombas:
Aqui caiu uma chuva de meteoritos.
Um dia hei-de lá levar-te.

Praia de Vale de Frades.
Mas que sei eu de cronogeologia
Para te dizer que estas pedras estão aqui
Há tantos milhões de anos ?!
Sei apenas que, de acordo
Com toda a teoria das probabilidades,
Estas pedras vão ficar aqui,
Muito depois da minha morte,
Muito depois da extinção da minha espécie.














Praia da Peralta.
O melhor do mês de Agosto
É enterrar a cabeça na areia
E escutar.
O mar.
A voz rouca do mar.
Que chegou até aqui,
Muito antes de mim e de ti,
E que vai ficar aqui
Muito depois de mim e de ti.

Não há farol
Na Peralta,
Para eu poder avisar a malta.
Enquanto o teu país arde
Ou o que resta dele.
Na Peralta passam navios ao largo.
Como manadas de elefantes.



















Porto Dinheiro
Um espesso nevoeiro
Cobre as falésias
Em Agosto.
Até aqui chegavam
As galés romanas.
E os barcos dos piratas.
Não sei se o sítio tem padroeiro
Ou orago.
Nem sei se por aqui passava
O teu caminho de Santiago.

Praia de Vale de Frades.
À volta de um prato de sardinhas,
A vida pode não ter
Metafísica nenhuma
E mesmo assim ser
Pura,
Emoção pura,
E simples,
Prazer simples.

Mandei pôr mais um prato
Na mesa, sem toalha,
Virada para o Mar do Serro.
Não me esqueci do pão,
Das sardinhas, das batatas,
Dos pimentos, da salada e do vinho...
Esperava por ti,
Que eras a oficiante da vida.

















Na Peralta,
Na malhada grande,
Eu poderia ter sido feliz
Entre apanhadores de lapas e de ouriços.

Mesmo sabendo
Que estas pedras estão aqui
Muito antes de mim,
Há milhões de anos.
Mesmo não tendo
Todas as respostas
A todos os porquês.


No Porto das Barcas
Não há ciência,
Apenas sapiência,
Que é a mais antiga das virtudes.

Porto das Barcas:
Um navio fantasmagórico
Entra pela terra adentro.

Praia do Caniçal:
Podia trepar
Pela minha árvore genealógica
Até ao paleolítico superior.
Pelo leito dos rios
Que sobem, secos,
Até às grandes fossas marinhas.

Porto das Barcas.
Daqui avistamos as Berlengas.
E a Nau Catrineta
Que já nada tem para nos contar.

Porto Dinheiro.
Aqui deito contas à vida.
Aqui conto as marcas
Do tempo.
Aqui lanço a âncora.
Aqui fui carpinteiro de naus.
Aqui, Plínio, o Velho,
Poderia ter fundado a paleontologia.
Mas, não:
Morreu em 69 a observar
A erupção do Vesúvio.


Praia do Valmitão
Podia ter sido ilha de corsário
Ou baía de tubarão.
A ter bandeira,
Só a preta,
Com caveira.

Praia da Areia Branca:
Não te conseguiram amar
Sem te possuir e violar.
Livro Sexto, de Sophia.










Praia do Areal:
Há uma seta
Que indica o sul.
O sol.
A zona dos chapéus.
O espaço rigorosamente vigiado
Dos amantes.
O risco de cancro da pele.
A rota da seda.
A sede.
Os amores de verão.
A morte.
Saio noutra estação.

Volto à Peralta
Para partilhar contigo
A magia do sol posto
No Atlântico norte.
O amor em Agosto.















Fotos: Praias do concelho da Lourinhã

© Luís Graça (2004-2005). Direitos reservados.