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terça-feira, julho 03, 2012

Blogantologia(s) II- (100): De Lisboa a Luanda, ou o puro azul do desejo


De Lisboa a Luanda: o puro azul do desejo



Estavam lindos os jacarandás
quando deixei Lisboa
e o Tejo,
ao fundo.
Eram o puro azul do desejo,
o azul mais inebriante do mundo.
Para trás,
ficava o sulco de uma canoa
e o cheiro a alfazema de Alfama.
No teu quarto, de hotel barato,
o sofá-cama desfeito
era um certo jeito de dizer adeus.
Um jeito tão português,
tão nosso,
o nosso fado,
dirás.
Não posso
falar da saudade de quem fica,
nem devo dizer do desejo de quem parte,
que o amor é ciência e é arte.
Subo aos céus,
em avião a jacto
que corta o planeta
em duas metades laranja
ao pôr do sol.
Não sei se é amor,
de jure e de facto,
ou apenas sorte
o arco-íris da tua paleta
com que pinto Lisboa de jacarandás.
Mas que pode a imaginação do poeta,
quando o coração, mais forte,
pensa que manda ?
Eram os teus lábios
que eu em vão procurava
nas folhas das acácias vermelhas
com que imaginava,
coberta,
a ilha de Luanda…

Luís Graça

Portugal, Lisboa, Parque Eduardo VII;
Angola, Luanda, Ilha de Luanda, Clínica da Sagrada Esperança, junho de 2012.

________________

segunda-feira, janeiro 02, 2012

Vamos cantar as janeiras (4): Escola Nacional de Saúde Pública, 2011

Lisboa, ENSP/UNL, Festa de Natal,

Aos antigos diretores desta casa,
Ao presidente e membros dos atuais órgãos de gestão da Escola,
Conselho Geral,
Diretor
Sudiretora
Conselho de Gestão,
Conselho Científico
E Conselho Pedagógico…

A todos os demais senhores e senhoras,
Meninos e meninas,
Discentes, docentes e não docentes,
De todos os pisos,
De todas as secções,
De todos grupos de disciplinas,
De todos os gabinetes e projetos,
Comissões, subcomissões e grupos de trabalho…
Sem esquecer o pessoal do Back Office
Que faz parte da equipagem deste barco
(na marinha, diz-se navio, NPR –Navio da República Portuguesa):
Os serviços administrativos,
Os financeiros,
Os académicos,
Os secretariados,
As publicações,
A documentação e a informação,
A comunicação e imagem,
A informática,
As telefonistas,
A reprografia,
A manutenção, o bar, a limpeza, a segurança…
(sem esquecer os ratos, que também fazem parte de qualquer navio)

Boas festas a toda a gente,
Um Natal feliz e quente!…



O nosso alegre fadário (*)


[Tiítulo apropriado para as nossas Janeiras, em ano… em que Fado deixou de ser lisboeta e português: é agora Património Imaterial da Humanidade… E para que não digam que o ano de 2011 foi mais um annus horribilis do nosso Séc. XXI…]



Refrão

Sou o Principal
Desta Escola Nacional
Em que a saúde é global
E onde tudo é velho e novo…
E governando,
O barco lá vou levando,
Ai!...
O orçamento esticando,
Mas sempre… a bem do povo!

1.

Ainda mal era estudante,
Logo a achei deslumbrante,
Higia, deusa querida,
C’o tempo deu-lhe trela,
Namorei, fiquei com ela,
P’ró resto da minha vida!

2.

Qu’amor tão salutogénico,
Que casal tão transgénico!...
Só o Olimpo não perdoa
Tamanha humana vaidade,
A da eterna mocidade
No corpo de uma pessoa!

3.

E por mal dos meus pecados,
Chovem queixas e recados:
Essa deusa é paranóica,
Se não poupas o tostão,
Vais morrer de coração,
É melhor chamar… a troika!

4.

Pobre de mim, economista,
Nem p’rós melros tenho alpista,
Nem papel para as retretes;
Ai que me dá um achaque,
Vem lá o homem do fraque
E até nos leva os croquetes!

5.

Mesmo quem não é cá da rua,
A esta Escola chama sua:
Seu patrono é o Padre Cruz,
Tem condomínio fechado,
Com o INSA, geminado,
A quem paga água e luz.

6.

Chamam-lhe a Árvore do Mal,
Vai p’ra abate municipal,
É o cantinho do fumador…
Cada dia cai uma pernada,
E mesmo não dando por nada,
Paga o justo p’lo pecador.

7.

Para acabar o fadário,
Falta o conto do vigário,
Health is business, não é esmola:
Dando a Higia como dote,
Dá-se às manas um retoque
E cria-se a… Grande Escola!

8.

Boas festas, senhor Reitor,
Nosso amigo e benfeitor,
Saia o teste de literacia,
Oito mais um é poesia.
Soma nove e fora… NOVA,
Aqui tem a nossa prova!


9.

Boas festas, senhores discentes,
Nossos queridos clientes,
São os votos dos professores;
C’o histórico orçamento,
Quem lhes paga o vencimento
São os futuros doutores.


10.

Boas festas à Direcção,
Está cumprida a tradição,
Obrigados p’lo almoço;
Retribuímos co’ as Janeiras,
Modo de dizer asneiras
Do povo… em alvoroço!

11.

Boas festas aos demais poderes,
Científicos e pedagógicos,
Digitais e analógicos;
C’poucos teres e muitos saberes,
De fraque e até de cartola,
Assim se faz uma escola.


12.

E p’ró fim fica o melhor,
Boas festas, pessoal menor,
Nunca vos falte o trabalho:
Cá por mim nos invejo.
E neste Natal desejo:
“Nunca digam… pouco valho”!!!

Refrão


Sou o Principal
Desta Escola Nacional
Em que a saúde é global
E onde tudo é velho e novo…
E governando,
O barco lá vou levando,
Ai!...
O orçamento esticando,
Mas sempre… a bem do povo!

(*) Inspirado no Fado do Cacilheiro

Letra : Paulo Fonseca (**); música: Carlos Dias

[Criação do ator de revista José Viana, justamente imortalizado como o Zé Cacilheiro. Veja-se um vídeo, de 1966, que passou na RTP Memória, e está disponível no YouTube:

http://www.youtube.com/watch?v=qL07wLZPGFw&feature=related ]



(**) Fado do Cacilheiro

Quando eu era rapazote,
Levei comigo no bote
Uma varina atrevida,
Manobrei e gostei dela
E lá me atraquei a ela
P’ró resto da minha vida.

Às vezes, a uma pessoa,
A idade não perdoa,
Faz bater o coração
Mas tenho grande vaidade
Em viver a mocidade
Dentro desta geração.

Refrão

Sou marinheiro
Deste velho cacilheiro,
Dedicado companheiro,
Pequeno berço do povo,
E, navegando,
A idade vai chegando,
Ai…
O cabelo branqueando,
Mas o Tejo é sempre novo.

Todos moram numa rua
A que chamam sempre sua
Mas eu cá não os invejo,
O meu bairro é sobre as águas
Que cantam as suas mágoas
E a minha rua é o Tejo.

Certa noite de luar
Vinha eu a navegar
E de pé junto da proa
Eu vi ou então sonhei
Que os braços do Cristo-Rei
Estavam a abraçar Lisboa.

Refrão…

terça-feira, março 15, 2011

Blogantologia(s) II - (91): Nada disto é fado

Nada disto é fado


Nada disto é fado, é apenas história (de)vida,
Ruas do ouro e da prata, de outrora, querida.

Colina acima, rua abaixo, no metro de Lisboa,
Ou no amarelo da Carris, é a vida, à toa.

A vida é um assalto à caixa de Pandora, meu amor.
Beware of pickpockets, avisa o revisor…

Alcântara, a ponte de fogo, suspensa
Sobre a tua cabeça, e a nossa raiva, tensa.

Em Almada, a teus pés, tens o estuário do Tejo,
Mas é na solidão do Terreiro do Paço que eu mais te desejo.

Compro castanhas, quentes e boas, com ternura,
Enquanto a vida segue pelas ruas, sujas, da amargura.

Nada disto é fado, é apenas história (de)vida,
Ruas do ouro e da prata, de outrora, querida.

21/3/2011

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Blogantologia(s) II - (19): Quanto é bom voltar a ver-te voar

Originalmenete publicado no Blogue-Fora-Nada, em post de 16 de Junho de 2005 > Blogantologia(s) - XIII: Para ti

Para ti, A., em jeito de poemacção, de poemafeição, de poemamor, de poemagradecimento, de poemapoio ou tão só de poemassombração. Como quiseres, que em poesia não há relações lineares de causa-efeito.


Quanto é bom voltar a ver-te voar


gaivota deusa alada
cortas fundo o branco
da manhã
e até ao cabo mais ocidental
do meu corpo
quero-te e espero-te
a viajar
no último comboio da madrugada

até ao fim até ao sul
paro escuto e olho
os semáforos do nevoeiro no país verde-rubro
mas já a maré enche de azul
as praças da cidade
e tu amor sem arribar

porto seguro e encantatório
ilha secreta gruta radar
com uma palmeira à janela
e uma bandeira em cada promontório
dizem que és filha da liberdade
do rio e da foz do vulcão e da lava
e em dias de neblina também és oásis
aldeia palafita e ponto final
entre as arribas e a praia-mar

não olhei para o calendário
nas paredes da falésia
nem fixei o dia o mês o ano ou a era
mas hoje o teu voo é preclaro sinal
de primavera

ponho um cêdê do fado novo
paro escuto perscruto
o telefone os búzios a guitarra
mas tu amante sibila cartomante
sem aportar

frias são as estrias do poema
e hirto o sax-grito
do último navio na noite
mas a letra do fado me diz
que tu gaivota deusa alada
estás p’ra chegar.

quanto é bom voltar a ver-te
voar.

lisboa (1985-2005)