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sábado, janeiro 05, 2013

Vamos cantar as janeiras (5): Escola Nacional de Saúde Pública, 2012


As Janeiras da ENSP/UNL, 2012

Manda a nossa tradição
Que se cantem as janeiras,
Ao diretor que é o patrão,
Aos confrades e às confreiras.

Companheiras e companheiros,
Será mais apropriado,
São os que são lambareiros
E comem à mesa do Estado.

Confraria não é convento,
Nem diretor é abade,
Ele bem estica o orçamento,
E corta na eletricidade.

O nosso Robim dos Bosques
Tem que ser Zé do Telhado,
Valente, não dá de frosques,
Há-de ser condecorado.

Já cá falta quase tudo,
Nesta escola nacional,
Até o papel p’ró canudo
Do programa doutoral.

Falta a tinta p’ra impressora,
Falta a santa paciência ?
Não, diz a administradora,
Que falte tudo… menos a ciência!

Com o prémio e o pecúlio
Foge, foge, ó Aguiar!,
P’ra onde, pergunta o Júlio,
Se eu nem sequer sei surfar ?!

Com a crise a durar,
Tudo chora, minha gente,
E com o trabalho a dobrar,
Da secretária ao docente.


Com a saúde feita em cacos,
Que se lixe a educação,
Na rua é só  buracos,
Acabou-se o alcatrão.

Até os melros, de certo,
Emigraram para Angola,
Transformando em deserto
O campus da nossa Escola.

Até a pobre da Marta,
Sonha à noite com coelhos,
Dando cabo da relva, farta,
Que chegava até aos joelhos.

Mas agora o que é chique
É exportar nosso produto,
Para Angola e Moçambique,
Processado ou em bruto.

Esta escola de doutores,
Empresa de exportação,
Vai p’ra bolsa de valores,
P’ra ajudar a Nação.

Este é o estado da Nação
Que penhorou o seu Estado,
Do hospital à prisão,
Só resta o triste fado!

Saúde agora é saudinha,
Diz o rei mago Gaspar,
Medicamento é mezinha,
Sopa do pobre, jantar.


 Esta escola não é escolinha,
 Vamos lembrar o velho adágio,
Na nossa santa terrinha
Vale tudo, sim,  …menos o plágio.

Boas festas, presidente
Do conselho pedagógico,
Contra o eduquês corrente,
Temos um combate ideológico.

Boas festas, presidente
Do conselho científico,
Diga lá agora à gente
Se o lugar não é pacífico.

Boas festas, presidente
Do conselho de escola,
Afável e sorridente,
É um senhor sem cartola.

Boas festas, presidente
Do conselho de gestão,
Que em cima põe o cliente,
E em baixo… os que aqui estão.

Boas festas, professores,
No dia do fim do mundo,
Pra quê fazer mais doutores
Se isto vai tudo ao fundo?!

Boas festas,  Cê Dê I,
És o templo do saber,
O  papel diz “Já morri!,
Mas continuo a valer”.

Boas festas, pró setor
Da nossa pagadoria,
Meninas que são um amor,
E uma fonte de alegria.


Boas festas, Marieta
Mais o resto da sua secção,
Falte o papel e a caneta,
Mas nunca a motivação.

As secretárias  da escola
Ficam no fim das janeiras,
Meto no saco na viola,
Já não digo mais… asneiras.

São versos de mirra e  incenso,
Com o ouro da amizade.
O  Natal, segundo o que eu penso,
É o que fazemos… na cidade.

Luís Graça
ENSP/UNL, festa de Natal, 21/12/2012





PS - Boas Festas para toda a gente desta casa: gabinete de comunicação, gabinete de informática, gabinete(s) de projetos, serviço de publicações, Revista Portuguesa de Saúde Pública, bar, reprografia, segurança, portaria… (será que esqueci alguém?), bem como da NOVA, incluindo os nossos queridos alunos, sem os quais fecharíamos as portas…
E pró ano logo se vê, se o mundo não acabar hoje!... Estaremos cá todos/as!...



segunda-feira, janeiro 02, 2012

Blogantologia(s) II - (97): Dies irae, dies illa!

Dies ira

Dedicado a todos os camaradas,
humilhados,
esquecidos,
abandonados,
ostracizados,
emigrados,
exilados,
que um dia subiram o portaló
dos Niassa, dos Uíge, dos Ana Mafalda,
a caminho da Guiné,
aquela terra verde e vermelha
que a todos nos marcou,
a ferro e fogo...
sem esquecer os que simplesmente viajaram nos TAM!

Que o ano de 2012,
mesmo de raiva,
seja de coragem e de esperança!
Como os anos que passámos na Guiné!



Cavalgam caudalosos os rios
Pela terra adentro,
Enquanto fluem ruidosos
Os dias da guerra.

Rios que não são rios
Mas rias,
Entranhas ubérrimas
Fustigadas pelo vento,
Rias baixas pela manhã,
Pedaços, braços de mar,
Restos de tsunamis,
Pontas de fuzis,
Palavras acérrimas,
Imprecações ao Grande Irã,
Picadas minadas
De ir e não mais voltar.

Dias que não são dias,
Circadianos,
Mas fragmentos,
Ora ledos ora amargos enganos,
Estilhaços de tempo,
Riscos nas paredes sujas dos bunkers,
Repentinas emboscadas,
Breves finais de tarde,
Instantes,
Flagelações,
Balas tracejantes
Sob o céu verde e vermelho
Enquanto o capim arde.

Narciso, revejo-me ao espelho,
Quebrado,
Vou nu,
De camuflado,
De azul,
Celestial,
Ao encontro do anjo da morte
Em Jugudul.
E não há estrelas
À noite,
Mas a bússola indica o norte,
Sideral,
Nunca o sul,
Nunca o nascer nem o morrer.

Dies irae, dies illa,
Dia de ira, aquele,
Em que subiste o cadafalso do Niassa,
Ou do Uíge ou do Ana Mafalda,
Dias de ira, aqueles,
Os da guerra!
Calai-vos,
Rápidos do Saltinho,
Rápidos de Cussilinta,
Vós que mais não sois
Do que canoas loucas,
Desenfreadas,
Levadas pelo macaréu da nossa raiva,
Entre o Geba e o Corubal.

Braços que não são braços,
Amputados,
Mas apenas tatuagens,
Traços,
Letras de fado pungentes,
Pontes que são miragens,
Tentáculos, serpentes,
Lianas, cortadas pela catana,
A eito,
Pela floresta-galeria,
Inferno tropical,
Túneis, tarrafo,
Bolanhas, lalas, bissilões,
Curvas da morte do Cacheu ao Cumbijã,
Apocalípticos palmeirais,
Pontas de punhais
Cravadas no peito,
Irãs acocorados
No alto dos poilões.

E depois o silêncio.
O impossível silêncio.
O silêncio das partituras,
Das mapas dos argonautas,
Partículas,
Pausas,
Pautas,
Cartas de tiro
Com claves de sol,
Desidratação,
A ogiva do obus,
O medo da avestruz,
O roncar do helicanhão,
Gritos do djambé,
E do macaco-cão,
Gemidos de kora,
Espasmos de balafon,
Rajadas de kalash
Ecos do bombolom,
Bombas de fragmentação
Que correm no dorso dos cavalos
Desde o Futa Djalon.

Não vou poder ouvir o silêncio do Cantanhez,
Nem quero ouvir o grito da morte
Outra vez.
.