sexta-feira, novembro 08, 2013

Humor com humor se paga (1): Grande poeta é o povo



A frase banalizou-se
no tempo do Estado Novo, 
quando a recém nascida RTP tinha um concurso, 
nos idos tempos de 1967/68, 
de triste memória para mim, 
que dava justamente pelo título 
Grande Poeta é o Povo. 

Um programa, se bem me lembro, 
apresentado pelo Artur Agostinho.
Ora ainda hoje dizem 
que ele, o Zé Portuga, 
já na escola não gostava 
nem de português 
nem de matemática !!! 

Eu acho que não, 
a avaliar por este naco de poesia e de matemática, 
do melhor quilate, 
que me chegou às mãos:


Quem 60 ao teu lado
e 70 por ti,
vai certamente rezar 1/3
para arranjar 1/2 de te levar
para 1/4,
tirar e lançar delicadamente as tuas vestes  o 1/6
e dizer-te com ternura:
20 comer!!!


Se fosse um poeta da nossa praça,
consagrado, 
cota, literato, chato pra burro, com assento na História da Literatura dos Portugas,  e lugar no Panteão Nacional,
escreveria assim na soletradíssima língua de Camões:

Quem se senta [20] ao teu lado
e se tenta [70] por ti
vai certamente rezar um terço [1/3]
para arranjar um meio [1/2] de te levar
para um quarto [1/4]
tirar e lançar delicadamente as tuas vestes  para o 1/6
e dizer-te com ternura:
vim-te [20] comer!

Bem lidas e vistas as coisas,
não há povo como o portuga 
para mandar a sua rima, o seu verso,  a sua quadra 
ou até o seu soneto à parede. 

Aliás, basta ver as paredes de Lisboa & arredores,
pintadas de fresco 
a seguir a um jogo da bola 
entre os grandes.
Derby, é assim que se diz.


quarta-feira, maio 01, 2013

Oração fúnebre: Horácio Mateus (1950-2013)


Horácio,
querido amigo, 
grande lourinhanense, 
geálico nº 1… 

És o primeiro a partir,
nessa viagem solitária e sem retorno 
que todos teremos que fazer um dia. 
Só não sabemos quando nem em que lugar, 
só o velho barqueiro de Caronte 
é que tem a lista dos passageiros 
e os horários e os percursos da última viagem 
da terra dos vivos. 
Mas estamos tristes, 
infelizes, 
inconsolados, 
porque achamos que partiste cedo demais. 
Tinhas direito a realizar os teus sonhos. 
E alguns levaste-os contigo para sempre, 
sem os poderes partilhar connosco. 

Alguns desses sonhos realizaste-os
e deves ter orgulho neles; 
o grande amor da tua vida, 
a Isabel, 
os teus filhos, 
o Simão e o Octávio, 
que seguiram as tuas peugadas, 
a tua filha Marta,
o GEAL, o museu… 
Poucos são aqueles que são profetas 
na sua terra. 
Tu podes orgulhar-te de ter sido um deles. 
E um dia o Parque Jurássico 
pelo qual lutaste, 
há-de fazer jus 
ao teu nome, ao teu exemplo, à tua obra, à tua memória.

Sem a tua saudável loucura, 

tua, da Isabel, do Octávio, do Simão,
e de outros tantos geálicos, 

alguns presentes nesta hora 
em que viemos despedir-nos de ti, 
não haveria lugar a alguns dos sonhos bonitos 
que aconteceram na nossa terra, 
e que irão continuar a acontecer, 
sob a tua inspiração e proteção. 

Tu foste um exemplo de paixão pela vida, 

pela terra, 
pelos seres que o habitam ou habitaram, 
pelas artes e ofícios dos nossos antepassados, 
pelas pedras das suas casas, 
pelos muros dos seus caminhos, 
pelas árvores dos seus campos… 

Cultivaste a paixão
pela história, 
pela ciência, 
pela cultura, 
pelo património de todos nós. 

És também um exemplo de amor 

pela tua (e nossa) terra, Portugal e a Lourinhã, 
mesmo quando a tua terra 
nem sempre te compreendia, 
ou te reconhecia 
ou te amava, 
como devia, 
e como tu esperavas. 
Julgo que terá sido Fernando Pessoa a dizer 
que quando um português sonha, 
alto e bom som, 
há logo alguém que o acusa de estar 
fora de escala 
e de ser doido varrido...

Pois bem, tu tiveste o mérito
de nos desassossegar, 
desinquietar, 
e de  juntar alguns de nós, 
e pôr-nos a sonhar alto 
e a fazer coisas, 
com paixão, 
com inovação, 
com verdade, 
com rigor e credibilidade. 

E isso às vezes incomoda
os que se sentam na cadeira 
da inércia, da mediocridade, do comodismo, da inveja. 

Obrigado, Horácio,
pela tua saudável loucura, 
pela tua criatividade (muitas vezes imprevisível), 
pelo teu humor (às vezes inconveniente e corrosivo 
mas sempre inspirador), 
Obrigado pelas flores que soubeste cultivar 
no teu jardim do amor, da amizade e da convivialidade. 

Foste um homem bom,
um bom cristão 
como Cristo possivelmente gostaria 
que fosse um bom cristão, 
um ser humano que soube nesta terra 
praticar as obras de misericórdia 
que vêm no evangelho do teu homónino, 
São Mateus… 
Lembras-te ? Sete eram corporais: 
Remir os cativos e visitar os presos; 
curar os enfermos; 
cobrir os nus; 
dar de comer aos famintos; 
dar de beber a quem sede; 
dar de pousada aos pobres e aos peregrinos; 
e enterrar os mortos… 
Ou de dar um barco ao náufrago, 
como diz o livros dos mortos dos antigos egípcios… 

E as outras sete obras de misericórdia eram espirituais: 

ensinar os simples; 
dar bom conselho a quem o pede; 
castigar com caridade os que erram; 
consolar os tristes desconsolados; 
perdoar a quem nos errou; 
sofrer a injúrias com paciência; 
rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos. 

Na tua vida, tão rica e tão curta,
fizeste tudo isso, 
sem alarde,
sem pompa nem circunstância,
foste um homem misericordioso. 

Onde quer que estejas,
tens direito a estar em paz. 
Se existe o céu, será aí a tua morada. 
Nesta terra, 
que foi a tua terra da alegria, 
mas também às vezes uma das estações do inferno, 
serás sempre lembrado 
por aqueles que querem e podem honrar a tua memória. 

Quanto a nós,
vamos ter muitas saudades tuas. 
À boa maneira dos nossos antepassados romanos, 
dir-te-ei: Requiescat in pace. 

Descansa em paz, Horácio, 

Descansa finalmente em paz!

Lourinhã, Capela de Nossa Senhora dos Anjos, 30 de abril de 2013

sábado, janeiro 05, 2013

Vamos cantar as janeiras (5): Escola Nacional de Saúde Pública, 2012


As Janeiras da ENSP/UNL, 2012

Manda a nossa tradição
Que se cantem as janeiras,
Ao diretor que é o patrão,
Aos confrades e às confreiras.

Companheiras e companheiros,
Será mais apropriado,
São os que são lambareiros
E comem à mesa do Estado.

Confraria não é convento,
Nem diretor é abade,
Ele bem estica o orçamento,
E corta na eletricidade.

O nosso Robim dos Bosques
Tem que ser Zé do Telhado,
Valente, não dá de frosques,
Há-de ser condecorado.

Já cá falta quase tudo,
Nesta escola nacional,
Até o papel p’ró canudo
Do programa doutoral.

Falta a tinta p’ra impressora,
Falta a santa paciência ?
Não, diz a administradora,
Que falte tudo… menos a ciência!

Com o prémio e o pecúlio
Foge, foge, ó Aguiar!,
P’ra onde, pergunta o Júlio,
Se eu nem sequer sei surfar ?!

Com a crise a durar,
Tudo chora, minha gente,
E com o trabalho a dobrar,
Da secretária ao docente.


Com a saúde feita em cacos,
Que se lixe a educação,
Na rua é só  buracos,
Acabou-se o alcatrão.

Até os melros, de certo,
Emigraram para Angola,
Transformando em deserto
O campus da nossa Escola.

Até a pobre da Marta,
Sonha à noite com coelhos,
Dando cabo da relva, farta,
Que chegava até aos joelhos.

Mas agora o que é chique
É exportar nosso produto,
Para Angola e Moçambique,
Processado ou em bruto.

Esta escola de doutores,
Empresa de exportação,
Vai p’ra bolsa de valores,
P’ra ajudar a Nação.

Este é o estado da Nação
Que penhorou o seu Estado,
Do hospital à prisão,
Só resta o triste fado!

Saúde agora é saudinha,
Diz o rei mago Gaspar,
Medicamento é mezinha,
Sopa do pobre, jantar.


 Esta escola não é escolinha,
 Vamos lembrar o velho adágio,
Na nossa santa terrinha
Vale tudo, sim,  …menos o plágio.

Boas festas, presidente
Do conselho pedagógico,
Contra o eduquês corrente,
Temos um combate ideológico.

Boas festas, presidente
Do conselho científico,
Diga lá agora à gente
Se o lugar não é pacífico.

Boas festas, presidente
Do conselho de escola,
Afável e sorridente,
É um senhor sem cartola.

Boas festas, presidente
Do conselho de gestão,
Que em cima põe o cliente,
E em baixo… os que aqui estão.

Boas festas, professores,
No dia do fim do mundo,
Pra quê fazer mais doutores
Se isto vai tudo ao fundo?!

Boas festas,  Cê Dê I,
És o templo do saber,
O  papel diz “Já morri!,
Mas continuo a valer”.

Boas festas, pró setor
Da nossa pagadoria,
Meninas que são um amor,
E uma fonte de alegria.


Boas festas, Marieta
Mais o resto da sua secção,
Falte o papel e a caneta,
Mas nunca a motivação.

As secretárias  da escola
Ficam no fim das janeiras,
Meto no saco na viola,
Já não digo mais… asneiras.

São versos de mirra e  incenso,
Com o ouro da amizade.
O  Natal, segundo o que eu penso,
É o que fazemos… na cidade.

Luís Graça
ENSP/UNL, festa de Natal, 21/12/2012





PS - Boas Festas para toda a gente desta casa: gabinete de comunicação, gabinete de informática, gabinete(s) de projetos, serviço de publicações, Revista Portuguesa de Saúde Pública, bar, reprografia, segurança, portaria… (será que esqueci alguém?), bem como da NOVA, incluindo os nossos queridos alunos, sem os quais fecharíamos as portas…
E pró ano logo se vê, se o mundo não acabar hoje!... Estaremos cá todos/as!...



Vamos cantar as janeiras (4): Escola Nacional de Saúde Pública, 2009


Cantigas de escárnio e maldizer… natalícias

Se ele há coisa que não rima,
Nesta Escola Nacional,
É o depressivo clima
Da campanha eleitoral.

Fui a Delfos consultar
A pitonisa famosa,
Pôs-me um galo a cantar
Em pose vitoriosa.

No templo de Epidauro,
Logo perguntei, sorumbático:
- Eleito,  é cristão ou mouro ?
- Será doutor… hipocrático!

Na sinagoga, gentil,
Rabino disse que “Cá,
Não há OPA hostil,
É vontade de Jeová”.

Nem Sobrinhos nem Afilhados,
São os Grandes Eleitores,
Impolutos, sem pecados,
Os melhores decisores.

Sem sindicato de voto,
Decidindo em consciência,
Longe da algazarra do povo,
Dirão de sua ciência.

ENSP é uma marca
Tem história e tem brasão,
Mas há gente de visão parca
Que a quer pôr em leilão.

Vamos agora,  enessepês,
Que o Pai Natal faz ó-ó!,
Escolher uma boa rês
Para puxar… nosso trenó!


Quentes e boas… festas natalícias
Para todos os enessepês,
Alunos, dirigentes, docentes, não-docentes e demais colaboradores,
Que dão (ou já deram) o seu melhor
Para que cada um de nós continue em ter orgulho em dizer:
"Eu  ? … Eu trabalho (ou trabalhei)
na Escola Nacional de Saúde Pública",

Lisboa, ENSP, 17 de Dezembro de 2009
Luís Graça