Um dia os historiadores haverão de ganhar dinheiro
à nossa conta,
da nossa e dos pobres guinéus
que andaram, tal como nós,
com a canhota na mão,
no Fiofioli,
em Guileje
ou noutros sítios lá no "cu do mundo,
longe do Vietname".
Eu não estive no Fiofioli,
em Março de 1969,
no decurso da Operação Lança Afiada.
Já estava no Campo Militar de Santa Margarida,
com outros camaradas,
com guia de marcha para a Guiné,
aonde chegaríamos em finais de Maio desse ano
para formar,
em Contuboel,
a futura CAÇ 12,
uma companhia de "nharros", de fulas ...
E também nunca lá fui depois,
ao Fiofioli, no meu tempo.
Nem eu nem ninguém, que eu saiba.
Estivemos só nos arredores,
mas ainda longe,
em operações, com a nossa tropa-macaca.
Se algum de vocês, algum dia,
antes, durante e depois da guerra,
esteve no mítico Fiofioli
(que pena eu não poder pôr isto no meu currículo!),
peço-vos que me mandem o vosso testemunho,
alguma estória,
alguma foto,
alguma pulseira de missangas,
vermelhas,
algum caderno escolar,
mesmo sujo e rasgado,
alguma lágrima de algum menino,
balanta ou beafada,
que nesse dia,
em 15 de Março de 1969,
não pôde ir à sua escolinha,
como de costume,
debaixo do belíssimo poilão da sua tabanca,
porque teve de fugir
e cambar o Rio Corubal,
à pressa,
em pânico,
sob as bombas dos T-6
e dos Fiat G-91,
a metralha do helicanhão,
e os gritos dos seus pais e irmãos:
"tuga, tuga, gosse, gosse"...
sexta-feira, abril 24, 2009
Blogantologia(s) II - (80) O menino da escolinha do Fiofioli
Etiquetas:
Bambadinca,
CCAÇ 12,
Fiofioli,
guerra colonial,
Guiné-Bissau,
meninos,
Rio Corubal,
Xime
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário