segunda-feira, agosto 01, 2011

Textos diversos (1): À laia de despedida de uma garça...

À laia de despedida de uma garça…

Amigos/as, companheiros/as da ENSP/UNL
(email que circulou pelos “internos”):

Deixem-me dizer-vos uma palavrinha
Antes que o dia acabe
E passe o verão do nosso contentamento descontente…
Segunda feira começa o Agosto,
O nosso querido mês de Agosto,
Seguramente o mês
Em que os portugueses ficam mais próximos
Do puro estado de felicidade…
Os portugueses de dentro e os de fora…
Pois, na próxima segunda feira,
Já seremos menos
Nesta casa
Onde se estuda e se trabalha,
Do piso zero ao piso dois…
Pelo menos, a Graça G...
Já não estará no gabinete de informática,
No 2º piso, nº 3A 27,
Para, sempre solícita e gentil,
Responder aos nossos SOS
De utentes atrapalhados
Com as partidas das máquinas
De quem somos cada vez mais tecnicodependentes…
Pois é, a nossa querida Graça,
Gentil garça,
Vai nos deixar
Pela simples razão de que a empresa
Que gere o nosso back office informático
Vai dispensá-la.

Posso não entender, mas não também discuto,
As razões dos gestores
Que todos os dias decidem
Da vida das pessoas que trabalham nas suas empresas.
Dir-me-ão que a Graça
Deixou de caber no algoritmo da empresa
Que a contratou
Para trabalhar na ENSP/UNL.
As nossas vidas são simples,
As contas é que são complicadas,
E os contos ainda mais…
Pelo menos, é o que ouvimos dizer todos os dias:
- A economia, seu estúpido!
Pois seja, mas não é ela que nos vai matar os sonhos
Nem as nossas gentis garças
Que se atravessam, em voo raso,
Na nossa autoestrada da vida…

Já lá vai quase uma década
Que eu vi a jovem e tímida garça
A entrar por esta escola adentro
E a competir, taco a taco,
Com os machos informáticos de barba rija…
Tinha estudado nas Caldas da Rainha
E era de Torres Vedras.
Logo minha vizinha,
Logo estremenha, como eu.
E depois habituei-me a vê-la,
No meu querido mês de Agosto,
Na minha não menos querida Praia da Areia Branca,
Já com os rebentos pela mão…
Sim, porque entretanto
Também foi mãe
Nestes anos que passaram,
Assim tão de repente.

Eu sei que a garça Graça
É uma mulher lutadora
E leva daqui um portfólio,
Como se diz agora,
De competências,
Não só técnicas mas também humanas e relacionais,
Que a vão ajudar
A rapidamente voltar ao mercado de trabalho.
Mas, perdoem-me a franqueza,
Eu vou ter saudades da nossa garça Graça,
Da sua voz aguda, e do seu sorriso,
E daquele seu jeito de,
Mesmo debaixo de stresse,
Me dizer, com a maior gentileza do mundo:
- Professor, deixe aí o seu portátil,
Que a gente já resolve o problema…


O único consolo que me resta,
Enquanto faço o luto pela sua perda,
Valioso recurso humano desta escola,
É que eu vou já encontrá-la
Segunda feira, na Praia da Areia Branca,
E vou convidá-la para tomar uma bica,
E, como diria um bom alentejano,
Tabaquear o caso, com ela…
Ou por outros palavras,
Dar a língua,
Pôr a conversa em dia,
Puxar umas fumaças (ela, não eu que sou ex…),
Recordar as pequenas histórias
Com que a gente tece, colectivamente,
A malha da grande História…
Mesmo sem direito a retrato institucional,
A Graça faz parte da nossa pequena grande história,
Desta casa, desta escola, de todos nós,
Alunos, professores e demais trabalhadores,
Porque, qual garça, gentil,
Um dia atravessou a Avenida Padre Cruz,
E pousou no Gabinete de Informática,
Da ENSP/UNL,
2º piso, nº 3 A 27…

E porque as nossas organizações
Devem ter um rosto,
E porque o melhor delas somos nós,
A acreditar nos livros do gurus da gestão,
As equipas e os trabalhadores de equipa,
E os seus líderes,
Então eu atrevo-me
A falar em nome de muitos mais,
Mesmo sem legitimidade institucional para o fazer,
Para simplesmente lhe dizer:
-Obrigado, garça Graça…
Vamos sentir a tua falta.
Mas também sabemos que tens asas
E força para voar!
Força e perícia!
E nos teus novos voos por novos céus,
Não te esqueças de nós,
Que gostamos sempre que os amigos nos visitem
E voltem
… à nossa ENSP/UNL,
Av Padre Cruz,
sem número de polícia…
Muita saúde e longa vida,
Porque tu mereces tudo!

Luís Graça
luis.graca@ensp.unl.

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